Baú de Fotografias

Muito se tem escrito acerca da democratização da fotografia com o advento do digital, questionado a existência de “amadores” que “roubam o trabalho” aos profissionais que ganham a vida apenas desta actividade. Não consigo de forma alguma “encaixar” esta concepção redutora de que fotógrafo é o fulano que tem equipamento para captar imagens, que há uns anos apenas estava acessível a alguns e agora se vende nas grandes superfícies. As tintas, telas e pincéis sempre foram acessíveis e não é por isso que temos pintores ao virar de cada esquina.

O mundo evolui, assim como as ferramentas, e a fotografia não é excepção. Se um fotógrafo pretende ganhar dinheiro com o seu trabalho, tem de se diferenciar dos captadores de imagens pelo que o equipamento, ainda que muito sofisticado e acessível, não pode oferecer, como a percepção e domínio da luz, a criatividade, o estilo… a capacidade de produzir imagens que satisfaçam clientes através de atributos para além dos megapixéis.

Em Portugal não existe Carteira Profissional de Fotógrafo. Existe Carteira Profissional de Jornalista, cujo estatuto é incompatível com a maior parte das actividades desenvolvidas profissionalmente por fotógrafos.

Desta forma, Fotógrafo Profissional será quem desenvolva a actividade de fotografar com um intuito comercial, ou seja, cujo fim último seja a venda do seu trabalho, seja por conta própria, por conta de outrem ou produzindo obras assinadas cujo intuito é a sua venda.

Assim temos fotógrafos profissionais bons e maus, os que em a tempo inteiro ou parcial trabalham para vender o fruto do seu trabalho, fotógrafos amadores bons e maus, os que fotografam pelo prazer de enriquecer o seu portfolio ou para partilhar o seu trabalho, e simples captadores de imagens, que apenas registam em bits e bytes o que lhes aparece à frente. Naturalmente que existem fotógrafos amadores infinitamente melhores do que alguns profissionais, mas isso não altera quem é profissional ou não. A minha mãe cozinha muito melhor do que a maioria das cozinheiras profissionais, e tal facto nunca a transformou em cozinheira profissional.

Sendo que de acordo com esta linha de raciocínio eu posso ter como profissional um indivíduo sem experiência, colectado nas finanças, que comprou um kit DSLR e um PC em promoção, tudo por menos de €1500. Como o posso comparar com uma equipa experimentada, com trabalho realizado, formação específica em determinado tipo de fotografia e equipamento específico? Simples, o mercado tem que seleccionar. A teoria económica mostra-nos que, em bens de consumo sem necessidades de regulamentação específica, o mercado é o melhor filtro. Hoje, com o advento da Internet, quase que só “compra gato por lebre” quem quer. Mesmo que um portfolio minta ou induza em erro, há fóruns onde quem experimentou pode livremente avaliar o serviço prestado. Que o primeiro exemplo faça uma reportagem de casamento por €500 não me choca. Acredito que a expectativa consciente do cliente seja de acordo com o que está a contratar, e acredito que exista mercado para todas as ofertas, sendo que a barreira à entrada no segmento superior seja muito maior.

Qualquer um é fotógrafo? Não! Há fotógrafos, amadores e profissionais, e há captadores de imagens. Posso ser fotógrafo com uma “pin hole” ou com um telemóvel e ser um captador de imagens com uma Hasselblad.

Boas fotos.